A loucura dos normais: Exposição Bispo do Rosário

Uma quinta-feira de outono com chuva.
Na agenda  uma aula que indaga as relações entre o aprender e a liberdade. 
Para tal tarefa um percurso em que o livro é feito de uma  Exposição de Arte.
Porto Alegre, Praça da Alfândega.
O prédio  de históricas instituições financeiras  virou o espaço Santander Cultural.
Quase cem anos de paredes com  marcas da vida porto-alegrense.
Estilo neoclássico.
Vitrais, grandiosas colunas, escadarias. 
A beleza arquitetônica invade o olhar.


Mas não era  este o motivo  da visita.
Vamos nos aproximando  de objetos, roupas, bordados.
Coleções de nomes, cidades, lugares.
Uma geografia do mundo feita de fios que  bordam delicados e  precisos contornos e, ao mesmo tempo, carregam a imensidão e  o peso do mundo...


O olhar se perde num grande painel de pano com  fios  que demarcam territórios, construções,  bandeiras e  embarcações, entre lugares  que remetem a uma vida militar.
E logo adiante, a madeira e os pedaços de panos criam o objeto veleiro que  navega sem lugar.
As mãos do artista nos tocam com fios que ultrapassam o que vemos.
Ele  produziu a vida que nos toca enquanto estava numa instituição psiquiátrica. 
As linhas dos bordados   eram feitas de fios das roupas que vestia.
O grande painel de tecido era um lençol. 
Entre dias que se acumularam em meses e anos, tudo  foi sendo transformado em matéria da arte de uma vida.
Arthur Bispo do Rosário: A Poesia do Fio.
Santander Cultural - Porto Alegre
Menos o tratamento que, administrado pelos normais, fez do sofrimento do outro um modo de aprisionar. 
A loucura "justificou"  décadas de  internação.
E  temos a sensação de que as colunas  e as paredes do belo museu  oprimem...  


Arthur Bispo do Rosário (SE 1911 - RJ 1989) 
Trabalhou na  Marinha Brasileira e na Companhia de Eletricidade Light. 
Paciente do  Hospital dos Alienados na Praia Vermelha- RJ. 
Diagnosticado como esquizofrênico-paranóico.
Internado na Colônia Juliano Moreira - Rio de Janeiro. 
Entre idas e vindas desde os anos 40, permaneceu nesta Colônia    até a sua morte,em 1989.  
Entre os  muros dos normais para os loucos, ele produziu mais de 800 obras que estão aos  cuidados do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea - RJ.    


Até dia 29 de abril de 2012, em Porto Alegre, no Santander Cultural: Arthur Bispo do Rosário: a poesia do fio

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