A lucidez de Elena
De
quem se trata? Eu poderia trazer sua
história e argumentar com a trama de sua vida o porquê deste encontro. Mas prefiro revisitar os afetos que permanecem comigo, depois de
viver as intensidades da experiência de
um dia que se fez marca no calendário de 2013, mas que me toca sem passar no
tempo.
Numa
tarde molhada, andei pelas calçadas que levam à Casa de Cultura Mario Quintana.
A chuva era a companhia exata para chegar à sala desta sessão de cinema. Dia para abrir aquela caixa onde guardamos vestígios do tempo nas estações dos afetos: cartas, fotografias, bilhetes,
pequenos objetos, diários, imagens que contam a vida. Um dia feito para perder-se na intimidade de memórias que guiam nossos trajetos à medida que percorrem o enigma do esquecimento para receber a visita de nossas lembranças.
História
de Elena sob o olhar da irmã. História
da irmã na insistente memória que pousa em Elena. História delas, tua, nossa. Imagens que
ultrapassam uma vida para nos tornarmos íntimos nos sentimentos que percorrem a
existência.
Por
vezes a sala de nossa casa, o quarto que
nos esconde. Pode ser também a rua onde tantos transitam e entre eles o singular pisar de
Elena. A chuva levou os vestígios
do passo que marcou o chão, mas permanece o movimento de um olhar que nossa lembrança faz traço no tempo. E na partida de quem amamos as dores da vida
que insiste em prosseguir. Entristeci.
Um convite para se enredar
na sala de um cinema e entristecer? Sem a companhia da chuva e em pleno sol de verão?
Talvez.
Sim, eu senti a dor da
tormenta que nos faz colocar a vida em
questão. Dos vacilos que nos dilaceram na lembrança do que poderia ser, mas já
foi. Mesmo assim insisto no convite. Encontro o ato corajoso de fazer do movimento da dor da própria vida a película da expressão. Ousar sentir com o outro o que se
passa na pele de nossos corpos.
Triste e sensível, denso e afetivo. Transparente na arte de expressar
a força que produz a vida. Corajoso.
O documentário ELENA, de
Petra Costa, terá cinco sessões – entre os meses de janeiro e fevereiro de 2014
– no Cine Santander Cultural, em Porto Alegre.
Que prazer te ler, Gis querida !
ResponderExcluirBeijão, saudades
Eda
Intensa e simplesmente Gislei... maravilhoso! Obrigada por retornares nesse arranjo de letras e pontos que nos fazem perder o chão, a noção do tempo, nos faz querer lembrar que estamos vivos. Bjs
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