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Mostrando postagens de abril, 2012

A menina e a moeda

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Entre o café e o pão,  o queijo e a goiabada,   ela e ele falavam sobre o romantismo de nossos dias.  Homens e mulheres independentes e  decididos com os rumos de suas vidas, mas vacilantes com seus amores. De que são feitos os castelos de príncipes e princesas que dão conta de suas vidas sem a espera do dia encantado? Ou este  dia  anda tão encantado - e distante -  em função  da exigência sem fim  que os  atos solitários  produzem? E vai ficando para trás o acaso, a  boa dose  de poesia,  estrelas cadentes,  pequenas e inesperadas delicadezas. O   castelo da razão  torna  a  espontaneidade da entrega uma   muralha  do que deve ser.  Entre palavras que explicam,   o alegre  movimento  de uma  criança solicita atenção. A pequena menina brincava. Passava entre os móveis e  descobria em cada passo uma invenção do espaço. A cadeira virava escada. A mesa uma casa. O sofá uma piscina para mergulhar entre  almofadas. E no próximo passo preferiu pescar. Dali

São Jorge para os dragões de nosso cotidiano.

A semana que passou  foi marcada por uma sensação de absurdos na vida cotidiana. Aqueles  fatos que você tem certeza que não acontecerão naquele dia, com aquela pessoa, naquele lugar. E tudo aconteceu. O  dia com tempo sobrando para respirar e olhar seus filhos crescendo, condensou atividades de  72 horas em 24.  A pessoa que você tinha plena convicção quanto a permanência  em seu plano de trabalho, resolveu viajar para o outro lado do mundo.   O lugar que   alimenta sua alegria  tornou-se  fonte da indiferença...    O que aconteceu?  Simplesmente não aconteceu o que esperávamos, pois nossas embarcações navegam   em mares  alheios e não dependem somente de nossos atos.  Até já sabemos da presença desta condição, mas o que seria da vida se não disfarçássemos, fazendo de  conta  que ela segue somente a travessia  de  nossos desejos.  E, ainda, temos que considerar que o tal  imprevisto pode ser armação de nosso inconsciente.  O que queremos e que não sabemos que q

A loucura dos normais: Exposição Bispo do Rosário

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Uma quinta-feira de outono com chuva. Na agenda  uma aula que indaga as relações entre o aprender e a liberdade.  Para tal tarefa um percurso em que o livro é feito de uma  Exposição de Arte. Porto Alegre, Praça da Alfândega. O prédio  de históricas instituições financeiras  virou o espaço Santander Cultural. Quase cem anos de paredes com  marcas da vida porto-alegrense. Estilo neoclássico. Vitrais, grandiosas colunas, escadarias.  A beleza arquitetônica invade o olhar. Mas não era  este o motivo  da visita. Vamos nos aproximando  de objetos, roupas, bordados. Coleções de nomes, cidades, lugares. Uma geografia do mundo feita de fios que  bordam delicados e  precisos contornos e, ao  mesmo tempo, carregam a imensidão e  o peso do mundo... O olhar se perde num grande painel de pano com  f ios  que demarcam territórios, construções,  bandeiras e  embarcações, entre l ugares  que remetem a uma vida militar. E logo adiante, a madeira e os pedaços de panos criam o objeto vele

Lanche, chocolate e perguntas.

    Sofia  come  biscoitos cobertos de chocolate no seu lanche na  escola. Lucas e Carol  comem seu  lanche sem chocolate.  Os dois  não entendem como a colega come seus biscoitos com chocolate, se a professora disse que os pais decidiram  que, no  lanche, não se  pode comer chocolate.  A professora  conversa com Sofia sobre essa regra.  Hoje ela pode comer, mas nos próximos dias não. Sofia  guarda os biscoitos, pois  o  delicioso sabor se perdeu.  E tudo parecia resolvido. Porém ... Lucas e Carol não comeram os biscoitos com chocolate, mas foram contagiados pelo sabor de  perguntar: Por que os pais   tomaram   essa decisão sozinhos com a professora?   As crianças não podem participar? Isso não é matéria de aula? Biscoito coberto com chocolate é chocolate? Lucas lembrou da aula sobre alimentação na escola. Se a gente estudou, não ia saber escolher? Mas se eu  comer o lanche e  depois, no recreio, comer um chocolate pequeno pode? A professora disse que n

Um pescador de estrelas

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Ele veio de um lugar distante desta terra banhada por águas claras que brincam com a areia. Ali chegou por caminhos  que  desviaram a  vida de previsíveis  idades de nascer, crescer, fazer escolhas e afirmar raízes. Então, o que parecia o percurso de  uma vida esperada passou a ser uma  desesperada busca de quem havia se tornado. Mar e Céu - Ilhéus  Ficou   a divagar se as  conquistas na terra que abandonaria, ainda  diziam de si, ou de um tempo no qual se alojava para acalentar sonhos do passado.  E chegaram os dias   para  fazer dos desvios o mapa de quem desejava ser. Mas, então,  já não tinha o equilíbrio  dos  passos que devem  levar o corpo entre  as encruzilhadas do trajeto por fazer. Na tentativa de encontrar o que movia  a pulsação da  vida que desejava,  escolheu a companhia do mar. Imaginava que ao navegar  encontraria no movimento das águas algo de si.  Ao retornar do mar ao final de uma jornada,  pousou  seu corpo na areia e ficou a observar o sol a despedir-

Pina: um filme que dança.

O corpo  se acomoda na poltrona do cinema. O olhar percorre a tela aguardando um filme. Um véu toca o rosto. O belo efeito 3D nos torna parte da cena. Já não sabemos se é um filme, pois estamos num palco com a dança ali acontecendo. E quando nos entregamos ao palco, temos um filme. A dança vai acontecendo com a cidade. As músicas são lindas, as poucas palavras precisas, mas ambas sucumbem no gesto que dança. O movimento do corpo é  protagonista. E fui abandonando  o corpo que conhecia. Respirava? Parece que sim, mas até o ar parecia dispensável. Percebi que meu único movimento foi soltar os braços, ali fiquei na mesma posição.  E quando o filme "acabou", se é que tem fim, meu corpo era outro.  Vivi a extensão de cada passo, de cada gesto-afeto. Estava na dança. Entre movimentos de corpos sem letras, a dança grita, sorri, silencia, entristece, ama, brinca, fere, goza, resiste, e tanto mais que não sabemos dizer.  A expressão da vida de

Coelho da Páscoa existe?

Na semana da Páscoa, a  conversa da hora na escola de João  girava em torno de uma pergunta: Quem acredita em Coelhinho da Páscoa? João chegou em casa preocupado.  Logo contou  para sua mãe e seu irmão  sobre as dúvidas que pesavam em seu pensamento. “Tem gente que acredita e tem gente que não acredita no Coelhinho. Hoje foi uma confusão na aula. Aí a gente resolveu levantar a mão para ver quem acreditava e quem não acreditava.”   A mãe do menino logo quis saber qual era o voto de João. “Em parte eu acredito e em parte eu não acredito.” As perguntas saltitavam entre os chocolates que o Coelho poderia trazer. A votação e seus números não resolveram o dilema de João sobre a existência do Coelho da Páscoa. Se não era  ele quem trazia,  como aquelas delícias chegavam em sua  cesta? “Quem não acredita disse que não é o Coelhinho que   coloca os ovos na cesta porque as portas  e as janelas estão  fechadas. Então,  como ele entra?  E como ele sabe o  que a gente gost