Um pescador de estrelas


Ele veio de um lugar distante desta terra banhada por águas claras que brincam com a areia. Ali chegou por caminhos  que  desviaram a  vida de previsíveis  idades de nascer, crescer, fazer escolhas e afirmar raízes. Então, o que parecia o percurso de  uma vida esperada passou a ser uma  desesperada busca de quem havia se tornado.

Mar e Céu - Ilhéus 
Ficou   a divagar se as  conquistas na terra que abandonaria, ainda  diziam de si, ou de um tempo no qual se alojava para acalentar sonhos do passado. E chegaram os dias   para  fazer dos desvios o mapa de quem desejava ser. Mas, então,  já não tinha o equilíbrio  dos  passos que devem  levar o corpo entre  as encruzilhadas do trajeto por fazer. Na tentativa de encontrar o que movia  a pulsação da  vida que desejava,  escolheu a companhia do mar. Imaginava que ao navegar  encontraria no movimento das águas algo de si. Ao retornar do mar ao final de uma jornada,  pousou  seu corpo na areia e ficou a observar o sol a despedir-se do dia. Encontrou  pontos luminosos que iam saltitando à medida que a noite chegava. Adormeceu...

... as estrelas aconteciam depois que um imenso  e escuro pano era colocado sobre a  terra. Os olhos  descansavam da luz sem fim do sol  e o sono chegava. Mas o menino não adormecia com a casa que se aquietava. Esperava o pano ficar bem estendido com a ajuda dos ventos que vinham de um mar distante e alisavam o contorno da terra. Os pequenos furos do tecido, gasto pelo tempo, marcavam as passagens de luz e traziam as estrelas. Uma delas sempre chegava até sua mão e iluminava a escuridão de seu quarto. Ao amanhecer o menino  sabia que a  guia de  seus sonhos estava no  céu ... 

Ele acordou com a chegada dos primeiros raios de sol. Sorriu ao lembrar do sonho que havia trazido a lembrança de uma história de sua infância. Algo estava em sua mão. Guiado pelo tempo da memória revisitou o trajeto de  seu destino. O mar  movimentava o seu barco amigo e,  no combate da  força da água com a terra, anunciava  a pesca de mais um dia de travessia. O céu guardava os sonhos acalentados no mistério do tempo sem idades. Nesta nova  terra,  o destino se fazia entre olhares que a natureza lhe oferecia para  guiar o traçado da vida com  seus atos.

Com  vagar  mirou a palma de sua  mão e encontrou o brilho da linha de sua vida.







Comentários

  1. Gis, e o livro? Quando vem? Tua escrita está cada vez mais bela e envolvente! Parabéns! Escritora de mão cheia de linhas de vida!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Um livro... vou enviar às estrelas o pedido de um esconderijo para tal façanha...quem sabe.

      Excluir
  2. Gisa,
    Este escrito confirma uma impressão que tenho tido de alguns de seus escritos, os mais longos, quase conto, quase romance.
    Não sei bem o nome que esta forma ganharia nos cânones, mas lembrei do Saint-Exupéry. Tem algo do Pequeno Príncipe nas histórias de crianças , em especial quando elas interrogam um adulto. Mas este último tem algo do Exupéry de Terra dos Homens. Valeria uma visita ou revisita a esta obra, talvez ali outros encontros se façam. Quem sabe até o Livro sai ou entre nas nossas prateleiras. Velhas e adoráveis prateleiras cheias de livros.
    abçs,

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Um fio para guiar a intimidade

Esquecer?

A lucidez de Elena