Partir e ficar




No final de um sábado que se escondia entre nuvens recebo uma notícia triste.
A hora e o local da despedida de alguém que parte para sempre. De início pensei que não era de quem eu conhecia. Uma tentativa de habitar um equívoco e não viver o sentimento.

Mas era verdade. Daquelas verdades que não podemos contrapor argumentos. A morte não aceita ponderações em relação a  ausência de quem parte. Sensação de que numa rajada de vento a vida se esvai.

Resta    buscar o  sentido do que vivemos  com quem partiu  e permanece em nós.
Não era uma amiga de minha intimidade cotidiana, mas uma amiga da vida que se faz em elos do mundo que desejamos. 
A fazedora de redes da saúde Maria Cristina Carvalho da Silva.

Uma amiga  da vida pública, nas ruas, nos bares, nos serviços,  na universidade, em nós.

Determinada nas práticas de uma  psicologia digna do  que  a vida de brasileiros e brasileiras solicita.
Construtora de uma política de saúde mental que afirma o que queremos para a saúde da nossa cidade: um  Porto  para acolher quem sofre.
Inventora de estratégias educativas na  continuidade de uma política que ultrapasse as iniciativas de uns e outros para ser efetivamente pública.


Chegou o domingo e não tive coragem de ir até a despedida com hora e local marcados.
Nas letras  a busca de sentido para  ficar.
Um pouco de nós partiu.
Ela permanece na rede da vida que teceu e, assim, seguiremos   afirmando que somos muitos para acolher  a  loucura da vida.




Comentários

  1. Gislei, me leio nas tuas palavras (porque as próprias me faltam agora). Mais uma linha nas redes que a Cris sempre soube tão bem tramar. Obrigada! Analice

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