"Memórias Petianas"
3
anos, 4 meses, 19 dias ...
Um dia depois
Um dia depois
Uma pasta na mesa
Quinze
cartas
Algumas
imagens
Um desenho-arte em nanquim
Histórias
Um vestido de outra terra
Um vestido de outra terra
Um
bombom sonho de valsa
Presentes de uma despedida.
Carteiros,
fotógrafos, artistas, costureiros, degustadores, historiadores?
Iniciamos com o nome da pasta, uma pista sobre esta escrita: “Memórias Petianas”.
“Petianas”
deriva de PET, Programa de Educação Tutorial. Uma política do Ministério da Educação,
criada em 1979, que trata das estratégias de ensino na política de educação superior.
De lá para cá, décadas que foram criando
novas configurações do programa, considerando a relação entre ensino superior e as demandas
do povo brasileiro.
De que
se trata?
De
uma proposta que reúne um grupo de estudantes de graduação (bolsistas PET) com a orientação de um tutor (professor da
universidade) para construir um plano de trabalho que ensina, pesquisa e
realiza extensão em atividades associadas as demandas de comunidades, dentro e
fora da universidade.
Mas
no que se diferencia da sala de aula, do grupo de pesquisa, dos projetos de extensão
já existentes? Ao me despedir desta singular experiência, afirmo como
diferença o trabalho de um grupo de
estudantes que descobre sua capacidade de autoria coletiva na formação e no modo
de atuar com as demandas educativas de seu curso e da sociedade brasileira. Responsabilidade
e trabalho coletivo na afirmação de
relações educativas, cidadãs e éticas.
O que eu poderia dizer do PET? Tu tens uma
ideia, conversa com o grupo e percebe que ela
pode ir adiante, então descobre um jeito de espalhar para muitos...”. Na descrição das diretrizes “ novas práticas pedagógicas”.
E
como este assunto vem habitar este espaço de escrita “não acadêmico”?
A
despedida de minha função de tutora pousou por aqui, o porquê as letras tentam enunciar. Não
escrevo sobre os planos e os relatórios
que estão cadastrados no sistema. Entre as linhas de construção destes importantes
arquivos, os quais sistematizam um
modo de fazer educação na universidade, encontro as memórias que contam aprendizagens sentidas
neste trabalho.
Escolho
compartilhar alguns fragmentos desta
história trazidos pelos ventos de
sentido de uma despedida. Nuances que
escapam dos registros institucionais e, ao mesmo tempo, constituem a força que
os movimentam.
Entre
as 150 “reuniões das sextas”, o coletivo de trabalho debatia o curso de
graduação em psicologia e a função da
universidade pública. Mas era nas avaliações de saídas e entradas de bolsistas que a experiência tutorial era enunciada na singularidade de seus sentidos.
Antes de fazer parte do PET, eu percebia em
alguns bolsistas uma inspiração do que
poderia fazer na universidade, para além do que estava previsto num currículo,
creio que até quem eu queria ser.
Com o Pet aprendi a me posicionar,
expressar, prosseguir e escolher projetos. Chegava na sala 128 e sempre encontrava um sorriso, um
abraço, alguém pronto para acolher quando eu nem sabia muito
bem para onde ir...
Escutava a colega que era do Pet e pensava:
Ela sabe o que dizer...
A mensagem dizia: você foi desligada... Quando entrei no PET trazia um certo desgosto da experiência
de grupo no colégio. Seria um desafio.
Aqui experimentei o pertencimento. Fazer parte da engrenagem de algo que fazia
sentido. Responsabilizar-se e quando
faz - ou não faz - perceber o
compromisso desta ação no coletivo.
As
falas que visitam minha memória enunciam marcas do que se aprendeu,
sendo que a lembrança do trabalho de quem passou parece constituir-se como um legado. Um singular espaço orientado pelo trabalho coletivo
e pela forma como estudantes constroem suas relações com o trabalho de aprender e ensinar.
Quando se decide sair do grupo, fica um certo temor
de que algo não vai funcionar e vamos percebendo que as pessoas vão assumindo, as
atividades vão acontecendo, pois os elos de ligação e compromisso não dependem
de um, mas das relações que se mantém entre as pessoas e o projeto comum.
Na saída da colega, ela chorava. Eu estava chegando e não entendia tanta
emoção. Hoje eu sinto o toque da lágrima.
Tu fizeste a tua música e chegou a hora de inventar outro tom em outro lugar, mesmo assim seguiremos cantando a tua
letra.
Lembrei
dos primeiros encontros entre grupos do PET, regional e nacional, que participei em 2012. Muitos
problemas em debate quanto a gestão da política e nossas diferenças quando
ao modo de conceber a política de
educação tutorial. Entretanto, o que permaneceu na minha memória foi a enunciação de estudantes universitários de todo Brasil
discutindo sua formação, a universidade, a
política de educação superior. Jovens com posicionamentos, práticas,
argumentos, debatendo semelhanças, diferenças, propostas. Temos ciência do que
este espaço significa? Que outro lugar
reúne professores e estudantes para pensar os modos de praticar a política de
educação superior em nosso país?
Dizem
os dados que, em 2014, são 841 grupos em
121 instituições de ensino superior. E
poderíamos quantificar o número de colegas de curso, de outras graduações, das comunidades com as quais trabalhamos. Uma
rede sem fim neste imenso país. Números importantes que situam
a abrangência desta política e justificam
o investimento de recursos para sua manutenção.
Aqui
ficam cerca de 5000 caracteres na
tentativa de acolher o movimento de sentir o que fazemos ao afirmarmos
a educação com a autoria de estudantes construindo um modo de aprender coletivo. E
para que uma tutora, um tutor: para sustentar um espaço educativo em que o estudante percebe que pode se tornar o que
deseja e que este desejo não diz somente
de si, mas de um modo de aprender
a ser conquistado com o outro. Uma política educativa.
Ah!! E quem são os carteiros, fotógrafos, artistas, costureiros, degustadores, historiadores?
Estudantes de psicologia e bolsistas que habitam este fragmento da "memória petiana": Alexandre, Camilla, Carolina, Daniela, Daniele, Débora, Diego, Gabriela, Gilmar, Helena, Iria, Julianna, Julieth, Letícia, Liana, Lucas, Luiz Henrique, Marina, Marcos Rafael, Michel, Paulo Roberto, Raul, Renata, Rodrigo, Simiana, Silvana, Thiago, Thanise, Willian.
Estudantes de psicologia e bolsistas que habitam este fragmento da "memória petiana": Alexandre, Camilla, Carolina, Daniela, Daniele, Débora, Diego, Gabriela, Gilmar, Helena, Iria, Julianna, Julieth, Letícia, Liana, Lucas, Luiz Henrique, Marina, Marcos Rafael, Michel, Paulo Roberto, Raul, Renata, Rodrigo, Simiana, Silvana, Thiago, Thanise, Willian.
E na partida é possível entregar a chave com um chaveiro, como uma amiga que parte, mas deixa um vestígio de seu trajeto, pois tanto os que ficam, como os que partem compartilham o mapa de compromisso com a formação e a universidade pública na morada da vida que desejamos para todos.
Agradecimento:
Aos brasileiros e brasileiras que sustentam uma política pública de ensino superior.
À colega Jaqueline Tittoni que indicou a parada nesta estação.
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