Flores Raras - Morada de Afetos
Um dia cinza.
Daqueles que solicitam o aconchego de casa.
Quem sabe para viajar no tempo a imagem de um filme.
Entre as opções,
um título inspirador e a lembrança de um comentário esquecido quanto a
precisão das palavras, mas insistente no afeto que afirma seguir em sua
direção.
Nas primeiras imagens uma conversa amiga em que segundos de letras marcam
um destino:
“-
Estou cansada... vou viajar
- Ah. A cura geográfica”.
Quem não viveu esta partida?
O encontro do mapa de si em terras alheias.
Até escolher um lugar, mas só para desviar a incerteza
de não saber para onde ir.
Andar com a bússola do trajeto que o lugar nos leva.
Guiar-se pela força de um passado, apresentado
como novidade para uma viajante que se
entrega ao tempo dos prédios, praças e
ruas. E perceber a singularidade do percurso nas cores da natureza, entre flores que nascem, morrem e
situam a permanência das construções.
Movimentos do filme Flores Raras
Arte de ousar viver uma forma de amar que o preconceito fere e a hipocrisia desdenha. Fragilidade
acolhida na força que se afirma com a coragem de expressar pensamentos e afetos. Arte que transforma palavras em poesia, geografia em
amorosidade, cidade em arquitetura do
encontro.
Sim, ficam lacunas sobre posicionamentos políticos, revelando
que sabemos pouco da história de nosso
país, seja dos fatos ou das marcas que estão em endereços que permanecem. Há,
também, conforme
críticas, exclusão de nomes da história de
nossa arquitetura.
Mas fui invadida por outras arquiteturas que planificam a vida. Pulsa a indagação da memória esquecida
de como as mulheres também construíram a pólis brasileira e produziram vidas inventadas. Outros modos de amar,
se relacionar, criar famílias. Vida
ocultada no silenciamento da diferença.
A cura geográfica não enuncia apenas o combate de uma
vida, mas o necessário caminho traçado por
mapas que acontecem entre vidas
compartilhadas. Escolher como chave de nossas casas a abertura para viver a geografia de lugares
que edificam a morada da existência no movimento do corpo. Ter a coragem de despedir-se do que partiu em nós e prosseguir apenas com a beleza do espaço que a raridade de uma vida permite edificar: paredes feitas da duração do aroma das flores ao seu lado.
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