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Letras Perdidas

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Num tempo que insiste em passar   Escrever  toca  no tom que faz parar Entre  delicadezas para acalentar Invadem as asperezas da aceleração Fazendo  das letras  solidão Talvez nada a dizer Pois o descompasso que entristece Não faz a vida parar Apenas silenciar Mas as estações seguem E a cada palavra que se perde A vida prescreve   Como  podes te ausentar                    Quando tanto preciso              No alento de teu experimentar              A tristeza ventar               Para com o alfabeto dançar

Mãe e o "quanto baste"

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Já que as perguntas sobre  a existência humana são infinitas e, por vezes, angustiantes, nada melhor do que ter um dia certo,  como o dia das mães,  para celebrar quem demarca um lugar para nossa origem.  Entre as celebrações de maio, mães por perto, outras que partiram, filhos que vieram e  a vida segue. Cá estamos como adultos, afinal  não nos deixam ficar numa daquelas paradas deliciosas de ganhar mamadeira;   receber o sono  com um beijo e  uma história que adormece;   ou,  simplesmente, ter alguém contra quem se rebelar e depois voltar para seu colo sem pestanejar. Resta fazer das  duradouras lembranças ingredientes para percorrer e  degustar nossos próprios caminhos. Entre mil delícias dos feitiços maternos culinários, retorna a cena de uma fábrica de biscoitos que, de tempo em tempo, invadia a cozinha da infância. As delícias quadradas, redondas, retangulares,  passavam por um grande for...

Um amigo de giz

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Eles se conheceram numa terra que percorre a história de suas vidas. Compartilhavam, na infância,  as mesmas ruas de vizinhança livre para brincadeiras de uma cidade de interior.  Mas não registravam na memória a presença  de um e outro.  Ela ali havia nascido e, quando jovem, mudou para outro destino.  Ele ali circulava,  nas férias de cada ano,  com familiares que guarda no coração não importa a morada de seu destino.  Já adultos, em tempos de natal, retornam ao conhecido e acolhedor lugar para celebrar passagens de novas vidas que o fim de ano vislumbra. Então, são  apresentados pelo  acaso do olhar e do pedido de uma bala, uma goma de mascar, ou qualquer  coisa que adoçasse ainda mais o  movimento que trazia um tempo de infância.  Nesta terra do sempre, foram presenteados com o encontro  de uma amizade sem lugar.  Como o vento,  seguiram suas vidas  para outros  lugar...

A menina e a moeda

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Entre o café e o pão,  o queijo e a goiabada,   ela e ele falavam sobre o romantismo de nossos dias.  Homens e mulheres independentes e  decididos com os rumos de suas vidas, mas vacilantes com seus amores. De que são feitos os castelos de príncipes e princesas que dão conta de suas vidas sem a espera do dia encantado? Ou este  dia  anda tão encantado - e distante -  em função  da exigência sem fim  que os  atos solitários  produzem? E vai ficando para trás o acaso, a  boa dose  de poesia,  estrelas cadentes,  pequenas e inesperadas delicadezas. O   castelo da razão  torna  a  espontaneidade da entrega uma   muralha  do que deve ser.  Entre palavras que explicam,   o alegre  movimento  de uma  criança solicita atenção. A pequena menina brincava. Passava entre os móveis e  descobria em cada passo uma invenção do espaço. A c...

São Jorge para os dragões de nosso cotidiano.

A semana que passou  foi marcada por uma sensação de absurdos na vida cotidiana. Aqueles  fatos que você tem certeza que não acontecerão naquele dia, com aquela pessoa, naquele lugar. E tudo aconteceu. O  dia com tempo sobrando para respirar e olhar seus filhos crescendo, condensou atividades de  72 horas em 24.  A pessoa que você tinha plena convicção quanto a permanência  em seu plano de trabalho, resolveu viajar para o outro lado do mundo.   O lugar que   alimenta sua alegria  tornou-se  fonte da indiferença...    O que aconteceu?  Simplesmente não aconteceu o que esperávamos, pois nossas embarcações navegam   em mares  alheios e não dependem somente de nossos atos.  Até já sabemos da presença desta condição, mas o que seria da vida se não disfarçássemos, fazendo de  conta  que ela segue somente a travessia  de  nossos desejos.  E, ainda, temos que consider...

A loucura dos normais: Exposição Bispo do Rosário

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Uma quinta-feira de outono com chuva. Na agenda  uma aula que indaga as relações entre o aprender e a liberdade.  Para tal tarefa um percurso em que o livro é feito de uma  Exposição de Arte. Porto Alegre, Praça da Alfândega. O prédio  de históricas instituições financeiras  virou o espaço Santander Cultural. Quase cem anos de paredes com  marcas da vida porto-alegrense. Estilo neoclássico. Vitrais, grandiosas colunas, escadarias.  A beleza arquitetônica invade o olhar. Mas não era  este o motivo  da visita. Vamos nos aproximando  de objetos, roupas, bordados. Coleções de nomes, cidades, lugares. Uma geografia do mundo feita de fios que  bordam delicados e  precisos contornos e, ao  mesmo tempo, carregam a imensidão e  o peso do mundo... O olhar se perde num grande painel de pano com  f ios  que demarcam territórios, construções,  bandeiras e  embarcações, entre l ugares ...

Lanche, chocolate e perguntas.

    Sofia  come  biscoitos cobertos de chocolate no seu lanche na  escola. Lucas e Carol  comem seu  lanche sem chocolate.  Os dois  não entendem como a colega come seus biscoitos com chocolate, se a professora disse que os pais decidiram  que, no  lanche, não se  pode comer chocolate.  A professora  conversa com Sofia sobre essa regra.  Hoje ela pode comer, mas nos próximos dias não. Sofia  guarda os biscoitos, pois  o  delicioso sabor se perdeu.  E tudo parecia resolvido. Porém ... Lucas e Carol não comeram os biscoitos com chocolate, mas foram contagiados pelo sabor de  perguntar: Por que os pais   tomaram   essa decisão sozinhos com a professora?   As crianças não podem participar? Isso não é matéria de aula? Biscoito coberto com chocolate é chocolate? Lucas lembrou da aula sobre alimentação na escola. Se a gente estudou, não ia s...