Um amigo de giz



Eles se conheceram numa terra que percorre a história de suas vidas. Compartilhavam, na infância,  as mesmas ruas de vizinhança livre para brincadeiras de uma cidade de interior. 
Mas não registravam na memória a presença  de um e outro. 
Ela ali havia nascido e, quando jovem, mudou para outro destino. 
Ele ali circulava,  nas férias de cada ano,  com familiares que guarda no coração não importa a morada de seu destino. 
Já adultos, em tempos de natal, retornam ao conhecido e acolhedor lugar para celebrar passagens de novas vidas que o fim de ano vislumbra.


Então, são  apresentados pelo  acaso do olhar e do pedido de uma bala, uma goma de mascar, ou qualquer  coisa que adoçasse ainda mais o  movimento que trazia um tempo de infância. 
Nesta terra do sempre, foram presenteados com o encontro  de uma amizade sem lugar. 
Como o vento,  seguiram suas vidas  para outros  lugares, distantes  dali, distantes entre eles. 
Mas a  bússola da amizade  foi marcando a movimentação entre   ares  e terras.

Em dia  de ares frios de outono,  nela  chegou  um arrepio feito do toque   de tristeza. 
Como magia do pensamento, entre milhares de quilômetros,  o riso marcou a  hora exata de chegar.
O telefone tocou.
A voz do amigo trouxe   o bom humor para  fazer a  tristeza sorrir.  
Não bastasse o  toque de telefone que abraçou, outra notícia chegaria dias depois.

Ele não vacilou para expressar a sensibilidade masculina  com os dilemas femininos.  
Pensou  num lugar de lembrança que sempre  despertaria a alegria da amiga.
Um inusitado registro da inspiração que guia as palavras dela foi inventado. 
Fez do giz pó e, em  seus voos experimentais de piloto, lançou aos ventos para riscar grafias com os ares.
Os rabiscos  de ventos de giz pousaram entre as nuvens graças a singular amizade da terra do sempre.
Atos  que fazem a  vida sorrir em qualquer idade.



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