Dominó de lembranças paternas



Dias atrás, entre "cartões postais instantâneos" do facebook,   a fotografia do pai de um amigo  me fez viajar aos acolhedores dias dessa convivência.  Neste passeio  de boas lembranças estava  o gosto  da sensação da presença paterna.

Atos que envolvem desde o apoio ao nosso cotidiano até as orientações  que, independente da idade dos filhos, dizem de   sermos vistos sempre com um pé na infância. Ter a permissão para degustar  instantes do lugar de  criança tem seu valor, afinal ser adulto 24 horas cansa…

Inhotim - MG
No caminho da imagem vivida  às semelhanças revividas,  as  pequenas peças enfileiradas do dominó da memória foram movimentadas. Estavam ali, em prontidão,  aguardando o toque     uma na outra, para desencadear  sentimentos na data que a vida arranja. 

Passado e  presente pedindo para  marcar um encontro que se chama saudade.

Quando o lugar de ser filho se ausenta pela morte dos pais experimentamos uma condição estranha. Descobrimos que somos mais passageiros  do que imaginávamos e, num instante,   as posições se alternam   aqui e  ali.  As   peças   mudam de   cor e   companhia, as possibilidades de jogo são outras.


Lembrei de fatos que hoje parecem engraçados como  o impasse por  posições políticas diferentes. Ao afirmar um voto discordante da opção de meu pai, ele cogitou algo como “nesta casa votamos em…”. Ao argumentar  que com ele  havia aprendido a luta pela democracia,   lançou um  olhar como se  pela primeira vez percebesse a filha como alguém com vida própria. A sensação era que ele também não sabia que havia ensinado tamanho aprendizado. Eu não perdi o teto, votamos em candidatos diferentes e ficaram as  alfinetadas nos almoços de família, é claro!

E quanto mais vivemos esse afeto na vida compartilhada, mais segue em nós  uma herança das possibilidades que carregamos. Não por ser fácil essa convivência, pois são muitos os impasses e  as diferenças, mas por termos nesta relação  a vida que conquistamos.

Parece que fica muito mais preciso o lugar de nossos pais quando a ausência se faz. Na presença da saudade descobrimos que, talvez,  aquilo que sempre pensamos ser deles é nosso faz tempo. Com amigos degustamos  pedacinhos dessa convivência entre pais alheios pois, as vezes, ser  dono do próprio nariz faz os aromas faltarem.

“Dia dos pais”ou não,  a cada dia  temos a possibilidade  de compartilhar  os afetos  que movem o dominó da vida.


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