Jogando com o gerúndio




Ando fazendo peripécias para que o estudo da língua  portuguesa tenha um tempero mais próximo do  paladar de filhos adolescentes. Já que adoro brincar com as palavras, acho meio estranho um certo  desgosto que eles manifestam com este cardápio.

Claro que ao ser apresentada aos polígrafos  com aquelas explicações que cortam e recortam textos para tornarem-se sujeito, predicado, adjetivos, advérbios e por aí  vai, percebi que eu também não conseguia me encontrar entre essas opções.

Entretanto, com a intensa  vontade de escrever, a necessidade de uma orientação se faz necessária,  pois muitas vezes aparecem dúvidas quanto ao modo correto de redigir. Com certeza deixo passar  alguns equívocos gramaticais ... Fico a pensar que não sou um bom exemplo aos meus filhos, pois tenho priorizado expressar   ideias na ânsia de tornar minhas inspirações uma conversa escrita. Seria possível fazer dos erros de um  texto o aprendizado  do percurso de experimentar nossa vasta língua portuguesa?


Nos últimos dias estou no combate com os verbos e as definições de tempos  e modos que embaralham conjugações na hora das provas.  Lá vou eu  estudar os verbos, mais apetitosos  do que os advérbios e os adjuntos adnominais. Mas também  chega um  momento que já não sei conjugar no futuro daqui e de lá. E ainda tenho que dar conta  da questão  que sempre fica pinicando: “se tu sabes escrever e  não sabe tudo isso, porque a gente continua a  estudar  desse jeito, eu também já sei escrever...”

Como tal assunto vem parar  no  blog num domingo de véspera de inverno,  feito para ficar de pijama, comer pipoca e ver um filme? O filme acontece em minha casa e  na casa de mais  três ou quatro amigos de meus filhos. Ou seria uma aula de português com geografia e história  nos tempos de internet, interatividade, comunidades virtuais? Eles  jogam o tal “minecraft” com seus computadores e em distantes e diferentes bairros da cidade de Porto Alegre. Mas habitam um mundo onde criam territórios, construções, textos imaginários e contextos. 


Ouço a voz  de um e outro como se todos habitassem minha casa. Um deles solicita ajuda com urgência,  pois um invasor  entrou no jogo e alterou o curso da história de habitantes já sedentários neste mundo da criação. O audacioso invasor não hesita em revelar seu nome: “Gerúndio”. Não resisti e como intrusa, do mundo de cá,   comentei: “adorei o nome dele”.


Logo depois fui informada que o invasor foi criado por dois integrantes da própria comunidade e que estava prevista a chegada do infinitivo e do particípio.Que tal!? Personagens do mundo dos verbos nos jogos, os quais poderiam ter como senha para compor territórios  os tempos, modos e  conjugações. Quem sabe, uma pista para criadores de jogos e professores inventarem  uma comunidade de verbos entre textos, edificações, explosões e invasões... 


O que sabemos dessas andanças de crianças e de  adolescentes  entre  possibilidades de  aprender nas novas modalidades de jogar e viver com tecnologias da contemporaneidade?


Pouco sei do tal Minecraft e estarei atenta ao assunto. Mas posso afirmar que conheci um pouco mais de meus filhos e seus amigos ao conversar com essa comunidade que joga  rindo, discutindo, brigando, inventando, estabelecendo normas  comuns, transgredindo, brincando. Exercitando o gerúndio.

Enfim, os verbos fazem parte da vida que acontece ao lado dos polígrafos e provas de português.

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