Agosto e uma paixão.
Na escuridão que a noite anuncia, ela tem a sensação de ficar nua e só, pois não situa as cores de suas vestes e perde-se dos encontros do dia. Algumas luzes e movimentos, aqui e ali, sinalizam: não estás
sendo abandonada, apenas entregaste o corpo ao silêncio
da noite e ao adormecer do sol. A lua
anda por perto para lançar alguma direção, acompanhada do lençol
de estrelas que banha o labirinto que habitas.
Nos primeiros dias deste mês,
ela amanhecia com o sol
disfarçado de nuances de uma luminosidade que
anunciava ares quentes. E, assim, foi acostumando-se
com as manhãs de inverno impregnadas de sinais de primavera. Sensação
de que o vestir-se com as cores do cinza era dispensável, pois dizia de um tempo que precisava guardar seu corpo entre as sombras que protegiam do frio.
Ao final da manhã, as nuvens partiam para deixar os caminhos ensolarados, ficando a certeza que os adereços coloridos já poderiam fazer parte de sua vestimenta. Afinal, despontava uma flor amarela que pouco se importava com sua solidão entre galhos marrons que lembravam o inverno.
Entre trajetos e ruas, vivia o andar de
pés e rodas movimentando as folhas amareladas que restavam do outono. Na busca de uma direção o olhar encontra os galhos salpicados de brotos que indicam a
chegada de tons verdes da nova estação.
Acompanha o compasso acelerado de veículos e caminhantes ligados a rotina diária de mais uma jornada. Sim, por vezes, ela é invadida pelo movimento daqueles que não se desprendem das ruas e prédios, alimentados pela ideia de que o importante é retornar ao endereço certo, esquadrinhado entre os sinais de trafegar e parar. Nada parece acontecer entre os trajetos daqui e ali.
Os dias de agosto seguem e o sol já não se envergonha de chegar, acompanhado de ares quentes, numa estação que ainda solicita o arrepio no corpo.
O detalhe amarelo, que despontava com certa timidez ao arriscar um tom colorido na estação fria, ousa vir acompanhado com os tons de roxo, rosa, salmão ... Ela já não vacila quanto a colorir suas vestes e, nos percursos de seu corpo, afirma a convicção de que neste agosto a vida se fez primavera.
Muitos foram contaminados por esta paixão de cores e ares. Além do olhar encantar-se com sua vontade de cor, o vento enamorado faz a flor voar para indicar o caminho a seguir.
Os desavisados das andanças de uma paixão podem dizer: mas de que primavera falas se hoje temos somente a chuva acompanhada dos ares do verdadeiro agosto?
A paixão primaveril que inspirou os vinte e poucos dias de agosto não vacila com a estação do frio que deseja retomar sua terra: a água que percorre as vestes coloridas tornam as cores mais vivas.
Nada sabes sobre o que se passa?
Mas andas a fazer teus trajetos guiado pelo corpo dela. Num mesmo dia, experimentas suas mudanças
de humores entre temperaturas que aquecem e esfriam tua pele. Ou, ainda, combinas trajetos a percorrer para fazer da vida em seus labirintos uma agenda mais rápida na
busca de teu destino.
Queres arriscar essa paixão
pelo que parecia não existir em tua morada? Basta despir
teu olhar e fazer da nudez de quem olha
a sensação
de uma primeira vez nos trajetos de seu dia. Algo está acontecendo...
Cores lindas para um dia de agosto.
ResponderExcluirPorto Alegre. Que nome lindo tem esta cidade!!!
Tão bom NOMES. Adoro nomes.
Aí, nomes e cores se encontram com luminosidades que não faz constranger o olhar...
saudades.
Rô