Esquecer?



Esquecer um amor! Quem já não se colocou esta meta?
Hoje é o dia perfeito, pois  29 de fevereiro só retornará daqui quatro anos.
Mas amor não se esquece, está na brisa, invade o olhar, alimenta  nossa  pulsação. 
A brisa, a pulsação, o olhar, não são posses de um e de outro,  mas  concessões momentâneas de um encontro. 
Encontro  de um dia, um mês, ano após ano,  um  instante.

Nesse mundo de tanto distanciamento, de muros e grades entre vidas e  relações,  resta a posse  de um amor. Uma tentativa de   acalmar a busca incessante de uma  morada de si na ilusão de que ela se faz no outro.

Mas de onde vem essa vontade insana de esquecer um amor, um  tempo, uma vida? Exatamente por esquecermos de conjugar o amor na vida  acontecendo. Deixamos  de  experimentar suas nuances na  brisa que toca nosso corpo numa caminhada  à beira mar, no olhar brilhante da criança que solicita nossa  escuta para contar suas descobertas, na vertigem de parar e  ser tocado pelos batimentos de nosso coração.

E sobre um tempo de esquecimento, a receita da infância: “Mãe, eu descobri que dormir é uma máquina do tempo  porque a gente dorme num dia e quando acorda, está em  outro tempo”. O tempo do sono nem sempre é acompanhado pelo movimento  desprendido da criança, mas sempre carrega a  possibilidade de um outro tempo se fazer, entre as horas da  penumbra da noite e da luz invasora do dia.  

Então, a vontade de esquecer um tempo e querer outro  pode estar dizendo do que já está  em nossas mãos: um amor pelo percurso que vivemos. O dia 29 de fevereiro é feito da magia de guardar  um precioso  pedacinho de nosso tempo. E de vez em quando ele  aparece  na forma de um dia para  dizer: esquecer um amor como meta de sua vida é esquecer de viver. 

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